terça-feira, 8 de junho de 2010

UNIDADE E IDENTIDADE



RECONCILIAÇÃO E COMUNHÃO

A festa de Babette é uma perfeita amostra de como o cinema não precisa necessariamente “devorar” a literatura por meio de filmes que constituem apenas um resumo modificado ou corrompido de uma grande obra. O diretor Gabriel Axel consegue, pelo contrário, elevar a linguagem do conto de Isak Dinesen a um patamar ainda mais rico e significativo. Como exemplo disso, pode-se indicar a força com que a trilha sonora surge como amplificadora e mesmo geradora de sentidos, sentimentos e emoções em vários momentos da narrativa. A música de Johannes Brahms e Wolfgang Amadeus Mozart estão presentes na narrativa de Isak Dinesen, mas tocam somente os corações daqueles já familiarizados com a obra dos mestres. No filme, contudo, podemos ouvir e sentir todo o exuberante calor do dueto de Don Giovanni (1787), de Mozart, cantado por Philippa e Papin, e entender melhor o porquê da atitude de Philippa ao renegar àquela volúpia paixão. Sem contar, é claro, com a belíssima trilha sonora original do filme, que nos transporta para aquele canto remoto da Dinamarca, para aquela solidão, para aquele clima gélido, para aquele modo de vida austero, severo e ao mesmo tempo suave e doce. Outro fator de completude da magia do conto de Dinesen proporcionado pelo filme, é a sua belíssima fotografia e iluminação. Como destaque, pode-se remeter à cena de Babette colhendo ervas ao pôr-do-sol e à cena em que a mesa do jantar é apresentada tanto aos convivas, quanto aos telespectadores prova de como a beleza se torna ainda mais deslumbrante quando efêmera. Não poderíamos deixar de mencionar o quanto o trabalho do diretor Gabriel Axel e de sua equipe conseguiu tornar o jantar de Babette muito mais apetitoso e até saboroso para o espectador. A preocupação do diretor em mostrar os bastidores da cozinha e a maneira como Babette prepara os pratos, todo o requinte da culinária francesa manipulada magistralmente pelas mãos daquela artista, faz com que nós aguardemos o resultado final de cada refeição com ansiedade e mesmo com uma inesperada fome. Mas é, sem dúvida, o trabalho dos atores que mais provoca inveja em quem apenas observa a degustação daquele jantar. Todos estão incríveis, porém, o general (Preben Lerdorff Rye) com certeza se sobressai; são seus comentários que tornam parte da promessa dos outros onze comensais uma tarefa ainda mais desumana, qual seja: anular o paladar. Apesar de se manterem firmes ao voto de não abrirem a boca, enquanto estivessem sentados à mesa, para comentar qualquer coisa sobre o jantar mas tão somente para louvar a Deus, vemos pela expressão dos rostos de todos os irmãos (atuação memorável de todos os atores) à chegada iminente para eles de um novo mundo, pleno de sabor, alegria e liberdade, em que todo o poder e a glória de seu Deus finalmente se lhes revelasse.

O estado experimentado pelos convidados do jantar oferecido por Babette ao final do banquete, pode ser mais bem aclarado mediante as palavras reconciliação e comunhão. Veremos, primeiramente, como o uso da palavra reconciliação pode ser justificado para explicar esse momento. Reconciliação assume aqui, o sentido mais amplo possível: o de uma completa reparação ante toda a intolerância dicotômica; um estado em que os pólos postos como antagônicos fazem as pazes, entram em acordo, em harmonia, e se esquecem finalmente de toda intransigência de um para com o outro. Um estado do mais perfeito enlace entre: sagrado e profano, passado e presente, mundo espiritual e mundo material, dever e desejo, amor e ódio, bem e mal, prazer e desprazer, ressentimento e esquecimento, crime e perdão, vergonha e despudor, carne e espírito, etc.

Gostaríamos de chamar atenção para um aspecto desse estado de reconciliação em especial: o do prazer carnal com o prazer espiritual. Na comunidade liderada pelos princípios do velho deão, todo os prazeres terrenos eram vistos como mera ilusão e engano, a verdadeira vida só poderia vir a ser desfrutada, com todo o seu deleite, no reino de Deus: “[os membros da congregação] renunciavam aos prazeres deste mundo, pois a Terra e tudo o que continha não passavam para eles de uma espécie de ilusão, e a verdadeira realidade era a Nova Jerusalém pela qual ansiavam” (Isak Dinesen, A festa de Babette). Durante os preparativos da festa, a congregação se apavora com a sedução dos prazeres que o desconhecido e o exótico podem vir a provocar. O sonho “sabático” de Martina ilustra bem essa tensão no momento em que Babette surge oferecendo-lhe uma taça de vinho: a tentação do prazer, o desejo de desfrutá-lo e o medo do que possa advir de seu usofruto.


Os prazeres da carne e as aspirações do espírtio são, no entanto, irreconciliáveis? O estado alcançado pelos irmãos da congregação após a ceia sugere que não. Mas qual seria esse tipo de prazer que poderia, sim, muito bem, se harmonizar com os desejos e as necessidades do espírito? O filósofo grego Epicuro (341-270 a. C.) nos oferece uma possível resposta. Fundador da escola epicurista, termo que, ainda hoje, é usado equivocadamente para designar àqueles que se entregam desvairadamente aos deleites da cama e da mesa, Epicuro estabeleceu o prazer como o fim último da vida. Mas o prazer de que nos fala Epicuro não se confunde com uma desmedida concupiscência, pelo contrário, semelhante prazer é uma espécie de equilíbrio entre prazer e desprazer. Para se chegar a desfrutar tal prazer, é necessário ponderar quais prazeres devem ser buscados e com qual intensidade se deve desfrutá-los, sendo assim, tanto a ausênsia quanto o exagero de prazeres provocam necessariamente o desprazer. É completamente errôneo, portanto, identificar desfrute do prazer com volúpia: “E, justamente porque o prazer é o nosso primeiro bem, aquele que recebemos pela própria natureza, não zelamos pela obtenção de qualquer prazer, mas deixamos de lado muitos, dos quais finalmente poderia resultar-nos um mal-estar maior ainda” (Epicuro, Carta a Meneceu). Para Epicuro, uma vida virtuosa e feliz não pode, contudo, significar total ausência de prazer: “Realmente não sei conceber o bem, se suprimo os prazeres que se apercebem com o gosto, e suprimo os do amor, os do ouvido e os do canto, e ponho também de lado as emoções agradáveis causadas à vista pelas formas belas, ou os outros prazeres que nascem de qualquer outros sentido do homem” (Epicuro, Antologia). Assim, uma vida de completa abnegação dos prazeres terrenos não representa, para Epicuro, um alimento que fortalece a alma, a qual, para ele, apesar de mortal, deveria existir em completa consonância com o corpo para que o Eu do homem alcance o estado de felicidade completa, a eudemonia. Por conseguinte, de acordo com Epicuro, os deleites que a vida oferece devem, sim, ser buscados como um verdadeiro alimento tanto para o corpo quanto para a alma (ou espírito), mas não com atitudes libertinas e intemperantes, e sim com prudência e comedimento, a fim de que se alcance o maior desfrute possível dos mesmos, o verdadeiro prazer: “Do mesmo modo que, na refeição, ele [o sábio] não faz questão absoluta da quantidade desmesurada, mais dá mais valor à preparação gostosa, igualmente na vida não se preocupa com o tempo que esta dura, mas sim com a delícia da colheita que ela lhe traz” (Epicuro, Carta a Meneceu). É talvez esse prazer desejado pelos epicuristas que a congregação experimenta ao degustar cada prato do jantar oferecido por Babette, no qual a quantidade não ultrapassou a medida necessária, mas fora preparado com extremo requinte e sofisticação, agradando não somente o paladar, mais provavelmente também o olfato, o tato e, com toda certeza a visão, proporcionando, assim, um prazer bem mais elevado para os convivas (e para o expectador).

A reconciliação entre corpo e espírito ocorrida no jantar mediante o desfrute de um prazer tal qual nos fala Epicuro, foi o elemento que proporcionou as demais reconciliações vistas no filme, porém, para Epicuro, as delícias da mesa não provocam, isoladamente, esse tipo de prazer. Se há uma forma requintada e caprichada, uma verdadeira arte como nos fala Babette, para o preparo das refeições, há também uma maneira de se alimentar que torna a apreciação da comida e da bebida muito mais saborosa. De acordo com Epicuro, essa “técnica” consiste em nos alimentarmos sempre na companhia de amigos.

A amizade, para Epicuro, era algo que merecia especial atenção. Segundo o filósofo suíço Alain Botton, Epicuro afirmava que havia três “ingredientes” para a felicidade: o primeiro é ter amigos, os outros são: liberdade ou auto-suficiência e uma vida bem analisada. Era por conta disso que Epicuro afirmava: “A faculdade de granjear amizades é de longe a mais eminente entre todas aquelas que contribuem para a sabedoria da felicidade” (Teses fundamentais anexados por Diógenes Laércio em “A vida dos filósofos”, § 27). Não foi à toa que, ao chegar a Atenas em 306 a.C, aos 35 anos, ele tomou uma resolução radical: comprou um casarão nos arredores da cidade, e convidou os seus grandes amigos para morarem com ele neste local que passou a ser conhecido como “o jardim”: “A casa era grande o bastante para todos terem privacidade e, ao mesmo tempo, poderem fazer refeições e conversar nas áreas comuns” (Alain de Botton, no documentário "Epicuro e a felicidade"). Para Epicuro, é sinal de sabedoria nunca fazer uma única refeição sequer sozinho, isto é, sem a companhia de amigos, visto que muito pior seria comer junto de quem nos é desagradável: “Antes de comer ou beber qualquer coisa, pense em companhia de quem você vai fazer isso, mais do que no que vai comer ou beber. Alimentar-se sem um amigo é para leões ou lobos” (Epicuro Apud Alain de Botton, "Epicuro e a felicidade"). Na ceia de A festa de Babette é, então, não somente a comida que proporciona o alcance de um prazer sublime, mas também o fato de velhos amigos desfrutarem daquela incrível refeição na companhia uns dos outros, louvando as graças de seu Deus, compartilhando as lembranças de antigas histórias, da memória da nobre figura de seu pastor, das palavras sábias proferidas por ele, de momentos agradáveis, arrependendo-se por antigos erros, pedindo desculpas e desculpando-se mutuamente . A comida agradabilíssima representa aqui o melhor motivo já oferecido para fazer com que grandes amigos se reúnam, se divirtam bastante e percebam toda a importância que cada um têm para a vida um do outro.

O resultado final do jantar de A festa de Babette pode igualmente ser esclarecido por meio da palavra comunhão. Os irmãos da congregação, que já há muito tempo vinham se desentendendo, vivenciam, pelo que é visto na película, um sentimento de pura identidade e unidade com o grupo, o que os leva a uma experiência indizível de vida e de se estar vivo. Vimos que a reconciliação entre carne e espírito foi proporcionada pelo sublime gosto do jantar e pelo fato dos irmãos o degustarem juntos, com pitadas de deliciosas confidências. Contudo, no que diz respeito à experiência de comunhão, outro fator imprescindível concorreu, juntamente com os já mencionados, para o seu acontecimento. Ora, os onze irmãos de congregação que desfrutaram as delícias oferecidas por Babette, manifestaram, após o jantar, um estado da mais pura fraternidade grupal, mas será que só a arte de Babette e o ato de usufruí-la com amigos seria a causa disso? Por que será, então, que o General Galliffet, o qual, de acordo com Lorens, “dizia que no passado havia duelado pela mão da mulher desejada, mas agora em toda França não havia uma só mulher pela qual ele arriscaria a vida com exceção da chef do Café Anglais [Babette]”, não manifestou qualquer sentimento de gratidão para com o marido e filho de Babette durante a repressão a Comuna de Paris da qual Babette fez parte juntamente com eles, ou mesmo, como nos informa a carta de Papin, com a própria Babette, “que escapou por pouco das mãos sangrentas do general Galliffet”. Talvez o sociólogo Émile Durkheim (1858-1917) possa nos esclarecer o que faltou ao General Galliffet e seus amigos que costumavam se deliciar com a arte de Babette, a qual bem que afirmou que podia fazê-los felizes, não obstante, é provável que sua arte jamais tenha insuflado sentimentos puramente pagãos (ainda que sob uma roupagem cristã) em seus corações tais como àqueles que preencheram os dos irmãos da congregação naquela noite encantada.


Émile Durkheim foi um dos poucos pensadores do século XIX que se contrapôs a uma visão evolucionista e positivista da religião. Para ele, a religião, longe de representar um atraso de qualquer tipo, constitui-se naquilo que justamente sustenta a sociedade como tal. Ao se deparar com as mazelas do mundo, o homem tem necessidade de encontrar forças que o ajudem a superar seus limites, e é na experiência religiosa provocada pela identificação do indivíduo com o grupo ao qual pertence que ele encontra essas forças. A religião é, portanto, a maneira como os indivíduos representam a sociedade à qual pertencem, sendo, pois, um fato eminentemente social. Por conseguinte, religião e sociedade são, para Durkheim, indissociáveis, visto que é a religião que dá força e confere solidariedade ao grupo, forjando, assim, a sociedade. Segundo Durkheim, a religião não é sinônimo de erro, mas sim a fonte de onde emanam as forças que ultrapassam o indivíduo e lhe conferem um poder ímpar mediante sua identidade com uma coletividade. Semelhante identidade advém, de acordo com Durkheim, mediante os rituais religiosos. Tais cerimônias costumam se estruturar em torno de um núcleo comum, a saber, um símbolo (ou símbolos) que representa a totalidade da consciência grupal. É, então, quando uma coletividade se une em torno de um mesmo objeto, em um sentido bem amplo (celebração de um mito, reverência a um deus, a espíritos de antepassados ou da natureza, a um ídolo, etc.), que ela se identifica consigo mesmo enquanto uma unidade, é então que o transe religioso se manifesta e todos do grupo se vêem, se sentem e se tornam um só. Como argumenta Durkheim: "As representações religiosas são representações coletivas que exprimem realidades coletivas; os ritos são maneiras de agir que só surgem no interior de grupos coordenados e se destinam a suscitar, manter e refazer alguns estados mentais desses grupos" (Durkheim, Formas elementares da vida religiosa). Nos rituais religiosos, portanto, é como se o mundo cotidiano se esvaísse, e o indivíduo mergulhasse no grupo: uma só voz, um só coração, a mente é dilatada e o transe acontece. A identidade com o grupo, para Durkheim, é o que confere ao indivíduo a força necessária para o retorno ao cotidiano.

É possível que o que tenha ocorrido, pois, com os irmãos de congregação em A festa de Babette, tenha sido justamente esse transe advindo da identificação dos membros do grupo como partes de uma mesma totalidade. Esse transe despertou os mais puros sentimentos religiosos naqueles irmãos, pois era em torno de uma mesma crença em preceitos cristãos que eles formavam aquele grupo. As reações àquele banquete poderiam, então, ser as mais diversificadas possíveis: violentas, cruéis, temerárias, heróicas, eróticas, orgíacas, etc., dependendo do grupo que o estivesse deliciando. Entretanto, para um grupo manifestar esse sentimento de identificação consigo mesmo é necessário, como já foi visto, a união em torno de um mesmo objeto, isso seria, todavia, impossível sem que o grupo falasse a mesma língua , sem que o grupo se entendesse. Durkheim argumenta que um dos principais fatores que tornam o grupo coeso e que o faz falar a mesma língua é a existência de uma ameaça externa. Ora, por conta da ausência da figura do pastor, os irmãos de A festa de Babette não mais conseguiam conversar entre si. Na cena em que os irmãos se reúnem com as duas irmãs para a habitual reunião de leitura e interpretação da Bíblia, vê-se que eles não conseguem permanecer um momento sem discutirem, ofendendo-se e acusando-se mutuamente. A despeito das irmãs tentarem a todo custo resolver o problema das contendas por meio de canções (Philippa até se senta ao piano), e mesmo da admoestação de Babette (“Ora, ora, ora, uma reunião cristã?”), a reunião acaba sendo um completo fracasso. Mas o medo do desconhecido, do estrangeiro, do exótico, do outro, que os preparativos para a festa manifesta nos convidados, faz com que os mesmos finalmente voltem a ser uma mesma voz tal como talvez o fosse no tempo em que o deão ainda era vivo. Após seu terrível pesadelo, Martina reuniu a congregação e revelou seus temores: “O aniversário do meu pai pode nos expor a forças malignas. Não sei dizer que comida ela servirá”. Ante o perigo dessa “reunião satânica”, os irmãos da congregação firmam uma espécie de pacto, um deles sugere “Nos não diremos nada, nem uma palavra sobre comida e bebida”; mas outro prefere algo mais radical: “Nenhum comentário sairá de nossos lábios. Nós nos sentaremos em silêncio”; uma irmã, porém, precaveu o grupo contra a impossibilidade de algo tão extremo dizendo: "A língua, esse estranho músculo, conseguiu tantas coisas importantes e gloriosas, mas não percamos de vista o sabá das bruxas. O Príncipe das Trevas gostaria que perdêssemos o rumo de nossas idéias. O Príncipe das trevas vive com medo do Senhor. À mesa usaremos nossa língua para orar. Em gratidão por tudo o que ele significa para nós." Um outro irmão concorda e afirma: “Será como se não tivéssemos paladar” Logo em seguida, ocorre algo que já não acontecia há muito tempo: todos os irmãos se dão às mãos e começam a cantar, num primeiro sinal de que algo estava sendo transformado pelo jantar antes mesmo dele começar. Antes do início da ceia, os irmãos aguardam na sala cantando hinos em louvores a Deus. Na descrição da autora, verifica-se que os ânimos, nesse momento já estavam alterados, o grupo já dava os primeiros sinais de identificação e comunhão. Percebe-se, assim, a importância que a união do grupo em torno daquela promessa teve para que o mesmo entrasse em processo de comunhão. Durante o jantar, os irmãos não conseguiram, é óbvio, como bem havia precavido aquela irmã (no livro, um irmão), permanecer em silêncio e nem, evidentemente, como se pode ver no filme pelas suas expressões de surpresa e satisfação, anular o paladar, porém, eles ainda conseguem manter a palavra de não comentarem nada sobre o jantar especificamente enquanto estivessem sentados à mesa (elogiando-o somente bem depois de se levantarem), o que os forçou, devido à necessidade, provocada pela visão, tato e gosto sublimes da comida e pela influência da bebida, sobretudo o vinho, a falar sobre outras coisas: e o assunto preferido foi justamente o deão, seu exemplo de fé e caráter, o que lhes inspirou os mais profundos sentimentos religiosos.

Na cena do café após o jantar, podemos perceber toda a mudança operada no espírito daqueles personagens pela aura de satisfação que emana daqueles rostos luminosos e enrubescidos, ilustrando com perfeição o estado de máxima reconciliação e comunhão alcançado pelos irmãos. É muito tocante assistir aqueles irmãos de congregação, que antes não conseguiam mais estar ao lado um do outro sem discutir, pedindo desculpas e se desculpando reciprocamente. E mais emocionante ainda é ver o casal de amantes, que via a sua relação como pecaminosa por ter surgido de um adultério, beijando-se da maneira mais terna e apaixonada. Na cena do poço, transparece o estado da mais plena comunhão na atitude dos personagens em se dar às mãos ao redor daquele "eixo axial" e, tal como crianças brincado de ciranda, cantarem e dançarem juntos. Nota-se o estado da mais perfeita comunhão que aquele grupo atingiu, um estado de pura inocência e liberdade, em que toda a noção de pecado se esvaiu completamente, uma verdadeira experiência de se estar vivo.

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