segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

THE AUTHORSHIP UNCHAINED


The authorship unchained

Com a estréia do novo filme de Tarantino, a crítica volta a se chafurdar na política do cinema de autor, enaltecendo os filmes em que um diretor possui total liberdade criativa como os únicos que podem ser de fato classificados como obras de arte e não meros bens de consumo. Sou um grande fã de Tarantino, longe de mim, portanto, querer dizer que ele não é o autor de seus filmes (na verdade, ele é autor de filmes que nem mesmo dirigiu, mas só roteirizou), todavia, poucos parecem se questionar como pode ser equivocada e ultrapassada essa teoria de crítica cinematográfica (elaborada por André Bazin, e posta em manifesto por François Truffaut nos Cahiers du cinéma) que pensa a autoria do cinema como responsabilidade de um único indivíduo, ou seja, do diretor. Por que não pensar, ao menos, que esse nem sempre é o caso? Muitas vezes, todo um estúdio, os produtores ou outros realizadores (um ou mais, inclusive certos atores, roteiristas, etc.), e não o diretor, é que acabam sendo os reais responsáveis pela autoria de um filme. Podemos pensar, por exemplo, nos filmes clássicos de monstros da Universal, nos filmes da Pixar, nos roteiros de John Hughes, nos filmes produzidos por Jerry Bruckheimer e nos filmes com efeitos especiais de Ray Harryhausen. Não que não exista cinema de autor (de diretor), mas creio que precisamos de critérios para julgar o valor estético de certos filmes que não tomem como único princípio a ideia de que a autoria de um filme pertence (e deveria sempre pertencer) única e exclusivamente ao seu diretor, relegando à categoria de mero produto comercial sem qualquer valor artístico um "filme de estúdio", em que o diretor não tem total responsabilidade pela obra final. Por que ainda nutrimos essa superstição que reza que um excelente “filme de estúdio” é ainda esteticamente inferior a um excelente filme de autor (de diretor)? Por que não pensar que ambos possuem, talvez, valores estéticos diferentes, mas de igual relevância? É claro que tolher o poder de decisão de um (grande) diretor é sempre censurável, e que, quase sempre, estúdio e produtores não entendem nada de cinema (mas só de mercado), contudo, creio que, algumas vezes, por alguma sorte de alinhamento planetário, o embate entre estúdio, produtores, diretores e demais realizadores acaba se dando de maneira saudável, em benefício (também) do valor estético da obra. Ademais, nem sempre é o diretor que contém a maior visão artística, mas um produtor (por que não? temos como exemplo Tim Burton em "O estranho mundo de Jack"), um roteirista, um editor, um ator, um diretor de fotografia, etc, etc. Ainda que o diretor seja o responsável por conduzir todo um time de realizadores, muitas vezes, a visão que predomina, a vontade que se impõe, o poder de decisão criativo não se encontra nele ou somente nele, e isso não é necessariamente algo negativo, pois nem sempre é o diretor que possui maior talento artístico na equipe. Muitas vezes, o diretor apenas contribui com o seu talento para que um talento superior (de uma ou de várias pessoas, ou mesmo da soma de seu talento com o de um membro da equipe ou com o de toda equipe) possa vir a criar um objeto artístico. Alguns críticos da política de autor procuram argumentar que, na verdade, a autoria de um filme pertence não ao diretor, e sim ao roteirista, ora, mas isso nada mais é do que insistir no mesmo erro. Creio que deveríamos tentar pensar mais no cinema como sendo (pelo menos às vezes) uma obra de arte coletiva, em que nem sempre é possível determinar um único indivíduo como sendo o autor, em que nem sempre podemos determinar com exatidão nem mesmo a quem de fato compete a autoria, o que em nada altera o seu valor estético. Entretanto, o que seria da crítica sem o autor? Já não seria hora de libertarmos (um pouco pelo menos) a autoria, a despeito da cobiça da crítica?