sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O LEGADO DE MIRACLEMAN

Arte de Alex Ross para a capa variante da edição 5 de Miracleman publicada pela Marvel Comics em 2014.

Alan Moore sobre a influência de Miracleman para a era moderna dos quadrinhos de super-heróis

Alan Moore: Já faz um bom tempo que não leio [Miracleman]. Mas, sim, foi provavelmente o primeiro lugar em que empreguei meus pensamentos sobre como um super-herói poderia ser tratado de uma forma mais efetiva – onde empreguei essas ideias de uma forma coerente. 

Kurt Amacker: E que deixou um legado no qual quase todos os heróis seguem o modelo que você criou com Marvelman e Watchmen. Ao invés de uma abordagem “mais direta” do heroísmo como encontrada na Era de Prata, todos os heróis são psicologicamente abalados. Todos eles têm problemas com bebidas, disfunções sexuais e casamentos arruinados. O que em si quase se tornou um novo status quo. 

Alan Moore: Sim, tornou-se. E posso dizer que sinto muito? Nunca foi minha intenção que todas as histórias fossem assim. A razão porque quis fazê-las dessa forma foi porque nada mais era assim. Queria fazer algo que fosse diferente. Se eu ainda estivesse – Deus me livre – fazendo quadrinhos de super-heróis hoje em dia, tal como o meu trabalho ABC de alguns anos atrás, eles seriam muito, muito diferentes do modelo de Watchmen ou Marvelman. Eles seriam muito mais sobre diversão – seja diversão intelectual ou diversão pura e simples – seriam muito mais sobre isso do que fazer qualquer revisionismo. Acho, em última análise, que essa abordagem que eu introduzi – pegar personagens já existentes e reinterpretá-los – provavelmente resultou em histórias em quadrinhos muito sombrias e nada divertidas. Não queria que todo mundo copiasse o que estávamos fazendo. E especialmente, se fossem fazê-lo, teria preferido que eles copiassem o frescor e a originalidade das ideias – e que conseguissem expressar um pouco da alegria que nós expressávamos, mesmo em Watchmen, Marvelman e Monstro do Pântano. Sim, houve passagens muito sombrias em todas essas histórias, mas houve também passagens de grande alegria. E me parece que as pessoas basicamente tiraram disso o que elas foram capazes de tirar – sobretudo uma atmosfera levemente depressiva e a ideia de que todo mundo tem que ser um psicopata sombrio e impiedoso. Mesmo personagens como Stanley e seus Monstros – será que deveriam ser reinventados como uma família de psicopatas sombrios? Isso roubou completamente dos quadrinhos uma grande parte do charme que, ao menos para mim, um dia eles já tiveram. Novamente, nunca foi pensado como uma abordagem geral para todas as histórias em quadrinhos. Foi só um experimento que eu tentei fazer, e funcionou melhor em alguns casos do que em outros. Sim, Marvelman e Watchmen – são histórias muito boas. Por outro lado, tentar fazer as mesmas coisas em A Piada Mortal, foi totalmente inapropriado.

Entrevista concedida ao site Mania, disponível em: http://www.mania.com/alan-moore-reflects-marvelman-part-2_article_117529.html

Trecho traduzido por Allan Sena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário